O êxito só tem razão de ser, se participado com alguém. A gana do vencedor está intrinsicamente ligada à superação, sua, de terceiros, de idéias, de esforços mentais ou físicos. E a presença de uma platéia é fundamental, mesmo que o vencedor tente exibir uma modéstia idiota, já que sua própria presença, por si só, é a confissão declarada da intenção de sobrepujar adversários.
Esse monte de conjecturas aí em cima, veio-me à mente após ver na televisão, há algum tempo, o anúncio de uma empresa de telefonia celular que se iniciava com um menino lançado do alto de um prédio, um avião, uma gaivota, feita de dobras de papel. O curioso é que a tal gaivota não desce, mas sobre, ganhando os céus. Fico imaginando, divertido, a aflição do menino se estivesse sozinho no momento em que seu artefato de papel ganhava altura... Para quem contar o acontecido, com quem partilhar algo que, certamente, não seria levado em conta por adulto nenhum, enquanto seus colegas duvidariam do feito?
A angústia seria justificada, afinal, a possibilidade de a gaivota subir é muito pouca, já que correntes ascendentes numa altura daquela, creio, exigiriam mais volume para atuar sobre o objeto. Os urubus estão aí para comprovar a tese. Já os vi dando voltas e voltas sobre um morro atrás de minha casa, nos tempos da infância.
Mas retornemos à angústia do vencedor ao entrar no estádio e não ter uma platéia ou um mísero juiz ou cronometrista para registrar seu feito. Sei o que é isso, desde que me aventurei a escrever livros e não receber um retorno significativo dos que os leram. Minha primeira "obra", foi vendida do Oiapoque ao Chui. É claro que um livrinho para cada lugar. Até no Piauí ele chegou. Soube de sua presença em alguns paíse (mesmo nos Estados Unidos!) enviados por mães para filhos lá residentes.
Contabilizando a edição especial feita por uma empresa para dá-lo de presente a seus clientes num final de ano, alcançamos cerca de mil e quinhentas unidades, número razoável para os padrões editoriais brasileiros.
Porém, além dos amigos mais chegados, que se não elogiassem seriam processados, nenhum comentário.
O segundo foi lançado com todas as pompas e esperanças. Noite de autógrafos, coquetel, um monte de gente, mas quatro meses mais tarde a editora quebrou e, exceto por uma que se declarou desinteressada, nenhuma outra se deu ao trabalho de responder às minhas consultas sobre uma possível nova edição.
Não parei de escrever, afinal é o único vício que tenho. Mais um tendo o velho amigo Pedro Toledo como parceiro, outro em fase de revisão também feito a quatro mãos com ele e o que seria o quinto, já rascunhado. O de poesias não entra nessa contabilidade, já que esse tipo de literatura é quase inviável no nosso país.
Confesso que me sinto semelhante ao tal menino. Inventei histórias, escrevi e lancei-as do alto das minhas esperanças, na certeza de que meu aviãozinho subiria... Se subiu, ninguém sabe, ninguém viu, igual à antiga música cantada pelo veterano Cauby Peixoto.
"Desci do prédio" super frustrado, mas menos angustiado. Já que se não faço sucesso, poderei continuar a andar pelas ruas sem ninguém pedindo autógrafos ou sendo obrigado a contratar guarda-costas como Paulo Coelho... Coitado...
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