Constato que a velhice não chega aos poucos, mas nos atropela repentinamente. Lógico que sentimos os reflexos diminuindo, os cabelos embranquecendo - em alguns casos "azulando" - e os jovens nos chamando de "tio", mas a conscientização da coisa se dá de repente.
Exemplo? Fui visitar um amigo e o encontro abatido e cabisbaixo. Pergunto-lhe o que aconteceu e ele me mostra uma revista com a fotografia da Brigitte Bardot e um pequeno envelope com fotos suas, daquelas três por quatro. Frente à interrogação do meu olhar, explicou:
- Estava vendo essa revista e pensando "como essa mulher está velha"... quando a secretária entrou na sala e me entregou as fotos, que tirei ontem... Cara, eu também estou péssimo!
Embora meritória a luta contra ela, a velhice, termina sempre com um nocaute do qual acordamos zonzos e com péssimo humor. Tomei o primeiro conhecimento disso quando meu filho passou pela sala prendendo o nariz com os dedos polegar e indicador, enquanto eu ouvia músicas do "meu tempo", envolto em lembranças. Mais tarde, na tevê, mostraram um programa onde se festejava, eu diria pranteava, os Quarenta Anos da Jovem Guarda. Quarenta anos, meu Deus!
Lá estavam rotundos senhores, alguns insistindo com rabos de cavalo em cabelos pintados e outros vestindo roupas inteiramente incompatíveis com nossas verdades mais modernas. Vestutas senhoras, cabelos idem e sorrisos bons demais para serem originais, cantando Garota Papo Firme enquanto eles insistiam em manter a "fama de mau", subindo a Rua Augusta a cento e vinte por hora... O pior estava reservado para o Grande Final, quando, juntos, esgoelaram uma Festa de Arromba, na qual estavam presentes o rádio, a televisão e um monte de nomes que nada dizem para as novas gerações.
Ali, naquele momento, senti que o nocaute se avizinhava. Eu sabia quem eram todos aqueles convidados da tal festa e me peguei cantando baixinho a letra da música. Acho que já morri e esqueci de deitar...
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