sexta-feira, 13 de junho de 2008

OS QUATRO AMIGOS

Eram quatro amigos. Desde os tempos de colégio primário. Foram crescendo juntos e, jovens, freqüentaram o mesmo clube onde além dos esportes usuais, dançavam nos bailes dos fins de semana.

Namorando, armavam programas em que pudessem participar juntos e assim foram até o vestibular, onde um cursou Engenharia, outro Administração, o terceiro Economia e, o último, Direito. Só aí seguiram caminhos diferentes e por mais que tenham tentado, os compromissos naturais foram afastando os quatro.

O que cursou Engenharia, depois de formado conseguiu uma bolsa e foi fazer doutorado na Alemanha e por lá ficou; o economista passou num concurso público e se transferiu para Brasília; o administrador após belo MBA, assumiu funções de destaque numa famosa indústria, enquanto o advogado nunca exerceu a profissão, já que ia muito bem, obrigado, na empresa de bebidas, seu primeiro e único emprego na vida.

Todos casaram, o advogado duas vezes, e a vida continuou até saberem da morte do engenheiro, cujo corpo retornava para o Rio, onde seria enterrado. Foi a primeira oportunidade de um encontro efetivo. Nenhum deles foi ao velório acompanhado de suas mulheres, o que facilitou a “esticada” até a zona sul, onde voltaram ao mesmo bar de tantos anos atrás. Nem a morte do amigo conseguiu conter a alegria daquele momento. Um primeiro chope e a mesma discussão sobre o sabor da pizza a ser pedida que, afinal, vinha sempre dividida em quatro sabores. Mesmo não gostando da Marguerita, lá estava o pedaço predileto do amigo que se fora.

Cada um contou sua história, os filhos nascidos, o sucesso em suas atividades. Menos o advogado, não satisfeito profissionalmente, não feliz nos dois casamentos e com uma lista de problemas com os filhos, que poderiam encher mil guardanapos do bar, se ali resolvesse escrevê-los.

Nem por isso ficaram menos felizes. A tarde já caía quando num pileque daqueles, onde – sempre – o economista tinha que ser amparado, passaram por uma casa lotérica e resolveram participar do concurso acumulado em muitos milhões e, apenas pela farra, jogaram todos os mesmos números.

No dia seguinte a surpresa do prêmio ganho. Foram juntos resgatar a fortuna e, de comum acordo e devidamente orientados pelo economista, resolveram fazer os mesmos investimentos e só tirarem o suficiente para uma vida mais confortável, coisa que variava sob a visão e necessidades de cada um.

O advogado comprou o apartamento dos sonhos, de frente para o mar do Leblon; o administrador investiu nas indústrias das quais, nessas alturas, era sócio e o economista foi fazer uma longa viagem pelo mundo.

Mais tempo se passou e foi a vez do administrador se ir. Novo encontro, novo pileque e a dificuldade do advogado em “transportar” sozinho o economista, nessas alturas com muitos quilos a mais e que o fizeram ser o próximo a ir embora. O sobrevivente da turma depois do enterro, não deixou de ir tomar um chope e comer a pizza, mas tudo ficara sem graça. Nem o bom dinheiro que não faltava mais, nem os problemas familiares que se amenizaram, faziam-no mais feliz. Morreu cinco anos depois.

Num velório pouco concorrido, a viúva foi abordada por uma parenta que se dizia vidente e perguntava a respeito de quem seriam os “três espíritos” junto ao caixão e que vez por outra davam uma olhada no morto e conversando entre eles, pareciam estar rindo.

A amizade continuava...

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