sexta-feira, 25 de julho de 2008

O GAROTÃO



André não era jovem, mas fazia questão de manter uma forma física invejada pelos da sua idade, graças a quilômetros percorridos em esteiras rolantes e pesadíssimos halteres levantados três vezes por semana, sob dedicada atenção de um preparador físico destinado unicamente para atendê-lo na academia e que lhe custava uma fortuna por mês. Além disso, havia a assessoria da nutricionista, do cardiologista e do clínico geral, provas incontestáveis de sua fixação pelo corpo perfeito.

Não que isso o impedisse de continuar dirigindo sua empresa bem sucedida. Gostava, entretanto, de observar os olhares das jovens funcionárias e cultivar uma rede de informantes que “captavam” notícias na chamada “rádio do corredor”. Ignorava as fofocas, mas dava especial atenção aos comentários elogiosos ao seu físico.

Incrível como possa parecer, não era dado a conquistas. Talvez, quem sabe, pelo perigo de eventuais insucessos sexuais comuns em sua idade e a aversão a tomar qualquer remédio que o ajudasse nesse sentido, mas que poria em dúvida sua aparente virilidade. Marido extremoso e pai atento satisfazia-se com os elogios e em cultivar algumas “paqueras” à distância.

Certa manhã chegou cabisbaixo ao escritório, o que foi notado pela secretária. Embora isso não fosse comum, em algumas outras ocasiões acontecera e aí, cumprindo instruções recebidas do Dr. Ribamar, misto de gerente jurídico e bajulador de plantão cujo relacionamento com o chefão equilibrava-se entre a amizade e um puxa-saquismo discreto, colocou-o a par do acontecido.

Ribamar colheu alguns documentos que justificariam sua ida à sala do chefe e para lá rumou. Encontrou André realmente abatido. Após os rodeios de praxe, perguntou se podia fazer algo pelo chefe/amigo. A resposta foi imediata. Como se desaguasse uma enorme frustração contou sua triste história:

Tinha acabado de tomar um café no bar da esquina, quando percebeu que três jovens com uniformes escolares olhavam e sorriam para ele. Evidente que eram quase meninas, mas não poderia deixar “passar em branco” uma “paquera”, mesmo que da forma mais descompromissada possível. Assim, sorriu incentivando a troca de olhares e duas delas fizeram-lhe um sinal perguntando se podiam falar-lhe. Claro que concordou e elas atravessaram a rua rindo muito e lhe disseram:

- Tio, sua braguilha está aberta.

Saíra dali se arrumando e ouvindo as gargalhadas das meninas às suas costas. Nem tanto pelo vexame da exposição indevida, mas abatidíssimo por ter sido chamado de “tio”, afirmação definitiva de que o acharam idoso demais para elas.

Pior que isso, só a internação em um asilo geriátrico...

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