quinta-feira, 30 de julho de 2009

PESADELO

O silêncio a minha volta, encheu-me de medo. As recordações das quais tentava fugir voltaram aos turbilhões e eu, que tanto as evitara, senti-me reconfortado em tê-las junto a mim, enquanto a escuridão tomou conta de tudo.
O barulho dos grilos, os rumores das águas de um córrego que não via, o farfalhar das folhas, tudo aquilo que sempre considerava poético inspirava-me uma angústia terrificante.
Procurei inutilmente por um cigarro. Olhei em torno, em vão, tentando identificar entre as sombras, um vulto amigo que me desse atenção. O desespero tomou conta de mim. Levantei-me e corri, arranhando-me nos espinhos e galhos invisíveis da minha loucura.
Finalmente caí. Senti meus lábios febris tocarem em outros que, aos poucos, foram devolvendo a resistência e a vontade de viver ao meu corpo frio. Lutei contra a vontade que me impelia para o abismo do não-sei-onde e, com minhas últimas forças, gritei.
Um grito vindo do fundo do peito que expulsou todo o mal que me cercava e espantou a morte, dama que já podia ser vista no horizonte acinzentado daquele delírio. E assim abri meus olhos. Ainda te beijando, dormi o sono da tranqüilidade, que há muito não conhecia.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A NOIVINHA

Aliança na mão direita, que tenta exibir qual bandeira solta ao vento, lá vai ela, quase menina, com um sorriso íntimo de vitória.
No mundo de compras do enxoval, um sonho específico e carinhoso para cada peça. No telefone que toca, a esperança de ouvir a voz do amado. No travesseiro das noites insones, planos para o futuro.
Sabe que nem tudo serão rosas, mamãe já disse. Sabe que a briga pela sobrevivência não será fácil, sem o papai para pensar por ela. Tem consciência disso, entretanto. Enfrenta a vida, o céu e a morte pela sua realização: casar e ter filhos, ser a dona da casa e do seu nariz.
Sinceramente, invejo sua coragem quase irresponsável, idêntica à dos heróis de capa e espada, de ir em frente na busca de um ideal, nada mais importando para isso. Nós, mais calejados, sabedores dos dramas que a vida reserva na convivência a dois, rezamos para que a quase-menina se imponha a tudo e a todos, sejam quais forem os sacrifícios a serem superados para, com inteligência e o amor que traz em si, manter o mesmo sorriso e os mesmos sonhos que a farão vitoriosa pela eternidade.
Amém.