terça-feira, 7 de outubro de 2008

MEU BRASIL BRASILEIRO...

Existem ocasiões em que por mais dramática seja a situação, uma gargalhada pode amenizar a tensão reinante. Lembro-me de um velho conhecido que estava presente quando do incêndio num grande edifício comercial. No desespero de se verem livres das chamas, as escadas ficaram abarrotadas de gente em pânico. Eis que se ouve um grito:

“Peraí, não empurra porque minha marmita vai entornar...”

Houve breve silêncio, seguido de um murmúrio crescente, que se tornou uma gargalhada geral. A partir daquele momento, o terror diminuiu e em passos coordenados, a multidão começou a descer e todos alcançaram a rua.

Botequins guardam vastíssimo corolário de frases e verdades aleatoriamente ditas. Num deles, havia um quadro pendurado na parede azulejada, onde se lia:

“Aqui, após a terceira dose, todos os problemas do país são resolvidos.”

Um bêbado, desafiando a lei da gravidade e equilibrando o corpo para trás num ângulo de quase quarenta e cinco graus, na porta de um desses “estabelecimentos”, declarava em alto e arrastado som:

- O Brasil tem como exportar eternamente, jogadores de futebol e gente corrupta.

Engraçado? Talvez, mas verdadeiro. Quanto aos quase garotos, agora identificado por “olheiros” do futebol europeu nos campos de várzea interioranos, nada a acrescentar. Cada vez mais vemos e ouvimos falar de figuras e nomes desconhecidos brilhando no Velho Continente, muitos já naturalizados e podendo disputar campeonatos pelas seleções dos países que os adotaram.

E quanto à gente corrupta? Depois de anões, mensalões, sanguessugas e quantas outras denominações dadas aos escândalos políticos dos últimos tempos, podemos encarar de forma mais séria a afirmação do bebum.

Um velho político afirmou em conversa informal da qual meus ouvidos participavam, estar a corrupção de tal forma enredada no poder público, que se puxarmos um fio da “teia”, digamos, numa estatal, poderemos fazer “desabar” um Ministério lá do outro lado da praça dos ditos cujos em Brasília, que nada teria a ver com a função da tal estatal.

Somos um país que tem a corrupção em seus alicerces. Se o Bispo Sardinha, aquele literalmente comido pelos índios, acumulou fortuna cobrando dobrões de ouro para absolver os pecados dos que podiam, pagar, ainda nos primórdios do nosso Brasil varonil, o que não imaginar dos que administram fortunas em investimentos governamentais? Esse é um assunto que poderia encher páginas, nada mais surpreendendo ao sonolento leitor, infelizmente já acostumado com isso.

Difícil acabar com a corrupção? Muito, já que se não for um movimento de grande parte da sociedade, haverá sempre a possibilidade da ação coerciva de autoridades desonestas, pulverizando os que levantaram suas vozes. Exemplo? Lá vai:

- Um empresário forçou o flagrante do pagamento de propina a determinado fiscal. Jornais e TVs mostraram a notícia. Passado menos de um mês, TODOS os órgãos fiscalizadores municipais, estaduais e federais, se abateram sobre o honesto e otário empresário que até hoje, briga na Justiça contestando a chuva de multas arbitrárias daquela época.

E lá vamos nós elegendo novos mandatários sem saber se, um dia, alguém com uma piada igual a do rapaz descendo do prédio em chamas, provoque uma reorganização social espontânea que acabe com esse tenso e vergonhoso estado de coisas.

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