Nós nos divertíamos com ele. Lá pelas tantas, começava a contar suas histórias, casos de amor, conquista de corações e, até mesmo, brigas e agressões com as quais se envolvera vida afora. Sempre as mesmas bravatas, só que repetidas com imagens e razões diferentes das contadas em noites anteriores.
Franzino, mas dono de uma possante voz abaritonada, só faltava subir nas mesas que ocupávamos para dar uma teatralidade maior aos acontecimentos narrados.
Ouvíamos num silêncio atento, mas divertido, com direito a, vez por outra fazer perguntas que permitissem ao narrador explicar melhor alguns fatos menos claros e, nesse momento, dava-se a ele a oportunidade de inovar, de crescer ou de omitir algo anteriormente falado e que, muitas vezes, mudava inteiramente o “roteiro” já conhecido pelos ouvintes.
Ninguém ria nem protestava pelas repetições, até porque a cada noite, eram alteradas pela mente inventiva do autor.
Naquela mesa éramos seis que raramente faltavam ao chopinho da sexta, após o expediente. Ele, entretanto, surgira sabe-se lá de onde e quando, para ocupar um lugar entre o grupo de amigos. Ninguém sabia ao certo quem era, pois, além do nome – Macedo – e dos ternos bem talhados, só disser que era casado com uma linda mulher e nada mais.
Eis que certa noite, não apareceu e a partir dali, sumiu. Claro que a ausência foi sentida e nós mesmos passamos a contar suas histórias, acrescentando novos detalhes “colhidos” durante a semana de trabalho e que trouxessem maior encantamento à narrativa.
Foi assim que resolveram escrevê-las e, pouco depois, imprimi-las. A troca de informações via Internet se intensificaram e acabaram por fazê-las circular e serem apropriadas por blogs e “sites” diversos.
Só então tomamos conhecimento da verdade. Eis que numa sexta-feira surge um Macedo furioso. Como todos nós, sua mulher leu as publicações na Internet e “peitou” o marido, única pessoa a quem mostrava seus escritos e que, vez por outra, os “enriquecia” com as modificações surgidas na nossa mesa de bar.
Macedo tinha quase certeza de que seríamos os responsáveis pela divulgação das histórias, embora falsamente negássemos o fato, fazendo cruzes com os dedos sobre os lábios, jurando que dali nada saíra. Virou as costas e se foi. Nós após breve silêncio e numa troca de olhares, explodimos numa gargalhada, tão logo ele dobrara a esquina, lamentando pela pobre escritora que, se quisesse editar suas obras, teria de começar do zero.
No encontro da semana seguinte, após comentarmos o fato e na certeza do sumiço definitivo do nosso narrador predileto, ouvimos um dos companheiros dizer, de forma séria e com o olhar perdido, imitando o estilo do Macedo:
- Pois é, gente... Não imaginam o que me aconteceu ontem.
Foi interrompido por uma estrondosa vaia que definiu, ali, a mudança radical dos assuntos tratados naquela mesa, onde voltaram a imperar os papos que sempre envolvem a conversa de dois ou mais homens num bar: mulheres, mulheres, mulheres.
quarta-feira, 4 de março de 2009
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