sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

PAPO A RESPEITO DA SOLIDÃO

Não sei se pelo carnaval que limita o assunto da televisão a um só programa, Escolas de Samba,obrigando-me a procurar outra diversão; não sei se pelo horário -a noite já vai grande - talvez pelo silêncio que me imponho para não atrapalhar quem dorme a poucos passos de mim, mas pela primeira vez em muito tempo, sinto-me solitário.

Conheci um jornalista que ao se aposentar, foi morar num apartamento do primeiro andar de um prédio na avenida Nossa Senhora de Copacabana, caminho quase obrigatório de todos os ônibus que saem daquele bairro. A barulheira dentro da casa era terrível e só diminuía um pouco, lá pelas tantas da madrugada. Vivia só e intitulava-se como um "eremita moderno", ou seja, enquanto quisesse estaria trancado naquele apartamento, mas sabendo que a poucos passos - um andar, melhor dizendo - havia toda a população de um bairro que não dorme. Surpreendeu-se quando o chamei de solitário covarde, já que se impunha um "modus vivendi" que, sabia, poderia ser interrompido quando o primeiro sinal de pânico toldasse a tal solidão. Mudou, então, o título para "eremita psicológico" e, rindo, dispensou qualquer comentário adicional que eu quisesse fazer.

A minha sensação é diferente, como se um peito vazio não aceitasse as batidas do coração; do grito dado no cume de uma montanha e que não trouxesse de volta o eco do meu desespero. Estranho, muito estranho... Ouvi uma entrevista com o Ariano Suassuna, na qual ele diz que "nem tudo que existe é crível" e, de repente, familiarizo-me com meus fantasmas que não vejo, mas sinto, e podem de fato existir e fazerem-me companhia nesse momento de desconforto. Presto atenção a um possível vulto que passa por mim, mas que só minha consciência detectou. Será a culpa por algum procedimento anterior, projetado como um "flash" momentâneo; será um pensamento perdido em algum momento da vida dos que circularam por aquela sala e que se fixou ali ou realmente existe e não posso acreditar só porque se apresentou de uma forma diferente da imposta aos que têm a mente presa na dimensão em que vivemos?

Complicado, mas factível. Divirto-me pensando que com ele não irei jogar uma partida de xadrez ou comentar os fatos da semana que passou, porém de uma forma ou de outra, esses novos pensamentos fizeram desaparecer a solidão e antes que outra sensação desagradável se faça presente, vou dormir... Afinal amanhã será outro dia...